20/05/2008
Em entrevista à ISTOÉ, Agripino pede desculpas a Dilma
[0] Comentários | Deixe seu comentário.Em entrevista à revista IstoÉ que está nas bancas, o senador José Agripino Maia pede desculpas à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Entenda o assunto na reportagem que o Blog publica, na íntegra:
\"\"DESCULPE, MINISTRA DILMA"
Líder do DEM no Senado diz que não pretendia desrespeitar a chefe da Casa Civil e admite que o seu partido não tem falado para o povo
Por OCTÁVIO COSTA E RUDOLFO LAGO
Há duas semanas, no depoimento da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Comissão de Infra-Estrutura do Senado, o senador José Agripino Maia, líder do DEM, fez uma pergunta que permitiu à ministra dominar a cena e acuar a oposição. Era uma chance para que os oposicionistas pressionassem a ministra a dar respostas sobre o mais recente escândalo que incomoda o governo: o vazamento de informações sobre gastos do governo Fernando Henrique. Ao ser procurado por ISTOÉ para falar das dificuldades que o DEM enfrenta no combate ao governo Lula, Agripino sentiu que seria a oportunidade de se redimir do erro que cometeu. Cuidadosamente, fez questão de redigir em duas folhas de bloco com uma lapiseira fina o pedido de desculpas à ministra da Casa Civil que se seguiu a uma pergunta sobre o episódio. "Aproveito esta entrevista à ISTOÉ para pedir desculpas à ministra Dilma. Reconheço que cometi um erro", afirmou Agripino.
Com relação ao programa do DEM de livre iniciativa e de diminuição do Estado brasileiro, Agripino reconhece que o Estado paternalista ainda faz sucesso para grande parte da sociedade que, beneficiada pelos programas do governo e pela estabilidade econômica, vive melhor e eleva a popularidade de Lula. Enquanto isso, o DEM corre o risco de eleger pouquíssimos prefeitos nas próximas eleições nas capitais e nas grandes cidades. Aos 63 anos, Agripino, que já foi prefeito de Natal e governador do Rio Grande do Norte, afirma que seu partido sofre com esse fosso, mas acha que o DEM deve insistir nas suas posições, certo de que no futuro essa nitidez ideológica lhe trará dividendos. "É verdade, às vezes o reconhecimento demora, mas é preciso insistir", prega ele.
ISTOÉ - A oposição hoje tem um campo de atuação bastante estreito, imprensada pela popularidade de Lula. Isso permite ao presidente afirmar que vai fazer seu sucessor. É correta essa avaliação?
José Agripino Maia - Eu acho que cada vez que o presidente cresce na popularidade, ele começa a dizer coisas que um estadista não diz. O presidente, que está vivendo um momento de popularidade alta em decorrência do desempenho da economia, está cometendo um pecado capital. Ele teria condições tranqüilamente de consolidar a reforma política, que está parada na Câmara por falta de vontade política do governo. As reformas sindical e trabalhista não passaram da distribuição de R$ 100 milhões às centrais sindicais. A ampliação da reforma da Previdência não é sequer falada. Para fazer reformas, você tem que contrariar interesses. Para contrariar interesses, você precisa ter força política, que o presidente neste momento tem e não está sabendo usar em benefício do futuro do País.
ISTOÉ - As críticas que o sr. faz não encontram eco suficiente na sociedade. O que está faltando à oposição?
Agripino - O processo de amadurecimento político de qualquer país se faz pela compreensão das idéias dos partidos. O Brasil - e esse é um defeito que temos - habituou-se a prestigiar pessoas, e não partidos. O presidente da República, com a sucessiva edição de medidas provisórias, entope a pauta do Congresso, e o Congresso, com as suas virtudes e os seus defeitos, tem perdido prestígio junto à comunidade. Poucos partidos políticos hoje têm nitidez de idéias. O meu partido, pela sua formação programática, é pelo fortalecimento da iniciativa privada, contra o gigantismo do Estado e é por natureza contra o aumento de carga tributária. Atribui-se ao presidente os bons resultados da economia, mas esse desempenho se deve em grande parte a fatores externos.
ISTOÉ - Mas o governo não tem responsabilidade nenhuma nisso?
Agripino - O Brasil hoje é refém do preço das commodities. Temos a inflação sob controle pelo que se fez no Plano Real, que vem de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, e pela responsabilidade fiscal praticada por Henrique Meirelles, pelo ex-ministro Antônio Palocci, que Lula continua a avalizar. Isso produziu inflação sob controle e receitas suficientes que permitem que os programas sociais sejam feitos, promovendo bem-estar para as pessoas, com nível de emprego crescente. Isso dá às pessoas renda e, com a inflação baixa, condição para que elas comprem o que nunca puderam comprar. Então, você tem um nível de satisfação grande.
ISTOÉ - Esse raciocínio caberia na boca de um líder de um partido governista...
Agripino - Mas aí é que vem o erro. E se o preço das commodities, que estão produzindo esse resultado, baixar? A economia do Brasil, pela responsabilidade fiscal e pela contenção da inflação, atingiu um patamar de boa qualidade. O crescimento acima da média - média para o Brasil, não em relação aos países emergentes ou da América do Sul - se deve ao preço das commodities. Na agricultura e nos minérios, estamos exportando muito, gerando muito emprego e distribuindo muita renda. Agora, estamos perdendo o bonde da história, porque poderíamos estar num nível de competitividade muito maior. O Brasil adquiriu os vícios do governo Lula.
ISTOÉ - Que vícios?
Agripino - Gasto público de má qualidade, inchaço do Estado, aparelhamento do Estado com quadros de qualidade duvidosa, um vício que ficou permanente e que produzirá resultados negativos para o futuro.
ISTOÉ - O DEM fez mudanças para ter maior nitidez ideológica. Mas perdeu competitividade eleitoral. Não foi um erro de estratégia?
Agripino - Os partidos políticos têm um papel a desempenhar na sociedade. Cada um tem de ter um nicho de pensamento. Nós estamos desempenhando um papel, na minha opinião, histórico.
ISTOÉ - Mas pagam um preço eleitoral alto, perdem quadros e votos.
Agripino - Mas, se pegarmos a história do mundo, veremos que quem teve a coragem de representar idéias com firmeza, terminou compreendido. Assim foi na Espanha. Assim foi na Alemanha. O Partido Popular da Espanha, com [José María] Aznar, produziu enorme crescimento e hoje tem aceitação eleitoral muimuito forte. Você tem que ter a coragem para firmar as suas idéias a para vê-las compreendidas pela sociedade. É verdade, às vezes esse reconhecimento demora. Mas hoje, quando se fala em um partido político que luta contra aumento de imposto, a primeira ilação do cidadão é com o Democratas.
ISTOÉ - A opinião pública critica a carga tributária, mas ao mesmo tempo é a favor de uma presença forte do Estado. Não é sintoma de um fosso entre o discurso do DEM e o pensamento da sociedade?
Agripino - Não sei se o que a sociedade quer é Estado forte. O PAC nada mais é que um elemento de reunião, com uma boa formulação de marketing, para um elenco de ação normal em qualquer governo. Todos os governos tiveram ação nas áreas de transportes, comunicações, saúde, segurança. Os convênios eram assinados nos gabinetes dos governadores ou nas sedes das prefeituras. Hoje, são assinados em praça pública pelo presidente da República. Cabe a nós, que temos uma consciência programática forte, mostrar os bons exemplos de diminuição do Estado. Eu pergunto: será que o Estado brasileiro seria capaz de entregar à população o número de telefones que a privatização produziu?
ISTOÉ - O sr. acha que a ministra Dilma Rousseff, como mãe do PAC, tem possibilidade eleitoral real para 2010?
Agripino - Há uma diferença entre a pessoa ser gestora de um programa como o que o presidente Lula entregou a ela e sua capacidade eleitoral. A avaliação da ministra como gestora ainda está por acontecer. Os primeiros números não são favoráveis. A ministra é apontada pelo presidente Lula como candidata, até em detrimento de outros pretendentes da base aliada. Alguns mais antigos. Ainda não vejo nela a adversária a ser batida. Até porque temos a consciência de que Dilma é uma gestora em estágio probatório. Segundo ponto: para ser um grande candidato você tem de ter traquejo político e capacidade de agregação. Ela ainda não foi testada nesses dois aspectos.
ISTOÉ - Esperava-se que a ministra ficasse intimidada no depoimento no Senado. Mas, a partir de sua polêmica questão de ordem, a ministra se saiu bem. Por que não foi possível à oposição emparedá-la?
Agripino - Aproveito essa entrevista a ISTOÉ para pedir desculpas à ministra Dilma Roussef. Reconheço que cometi um erro ao formular a pergunta que eu fiz à ministra, mencionando, de forma desnecessária e indevida, a entrevista em que ela relata episódios vividos quando foi presa e torturada pelo regime de exceção. Eu não pretendia afrontá-la, e muito menos desrespeitá-la. Mas assim foi interpretado, e, por isso, peço desculpas. Mas o que eu queria e continuo a querer é a verdade sobre o dossiê sobre gastos do governo FHC. Quem mandou fazer, onde foi e com qual objetivo.
ISTOÉ - O ministro Tarso Genro afirmou que o dossiê não tipifica um crime. O sr. concorda?
Agripino - Só falta o governo dizer que o vazamento do dossiê ocorreu por descuido. É querer iludir a boa-fé dos brasileiros. Já existem nove versões do governo com relação ao dossiê. Em uma ou duas versões, é colocado de forma clara pelo governo que as informações ali contidas eram sigilosas. Mais na frente, as informações deixaram de ser sigilosas. O ministro Tarso Genro ora diz que é crime, ora diz que não é crime. Para resolver isso tudo, só há uma saída: identificar onde o dossiê foi feito, por ordem de quem e com que objetivo.
ISTOÉ - O governo imputa ao senador Álvaro Dias responsabilidade pelo vazamento das informações.
Agripino - O senador Álvaro Dias terá a oportunidade de se explicar na CPI dos Cartões Corporativos. Seguramente, vai apresentar as suas razões, as circunstâncias nas quais seu assessor recebeu essas informações e o que foi feito delas. Eu confio no senador Álvaro Dias e acho que ele terá a oportunidade de dar os devidos esclarecimentos.
ISTOÉ - Se o sr. recebesse o dossiê, procuraria a imprensa para vazá-lo?
Agripino - Eu faria um pronunciamento na tribuna do Senado. Se tivesse chegado para mim, dentro desse quadro em que eu perceberia claramente que haveria uma intenção de oferecer uma represália ou intimidação ao governo passado, eu teria ido à tribuna do Senado e denunciado claramente isso.
ISTOÉ - O DEM vem fazendo uma oposição mais radical do que o PSDB. A aliança do DEM com o PSDB está se aproximando do fim?
Agripino - Não. Em absoluto. Fizemos recentemente uma reunião em São Paulo com a presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do ex-presidente do DEM Jorge Bornhausen exatamente para afinar a atuação dos dois partidos do ponto de vista de estratégia de conduta. Os pontos de divergência não foram tratados até porque um fato ficou decidido: ninguém pode exigir que um partido ou o outro, se tem candidato forte numa capital, seja inibido ou obrigado a manter essa candidatura posta nas ruas. O ideal é que houvesse candidato único. Mas quem for para o segundo turno terá o apoio do outro. A identificação entre o PSDB e os Democratas no Senado foi, é e vai continuar sendo perfeita.
ISTOÉ - A perspectiva do DEM nas grandes capitais, nas eleições para prefeito, não é muito boa. Qual é sua previsão?
Agripino - Em primeiro lugar, acho que o Kassab, em São Paulo, está com um desempenho bom e tem grandes chances. No Rio, Solange Amaral está na luta e quem está na luta pode ganhar. Em Palmas, temos grandes chances. Em Porto Alegre, temos boas chances e também no Recife e em Salvador. Em Belém, a Valéria Pires é um grande quadro. Temos chances em diversas capitais importantes do País. Eu não vejo, na largada, um quadro desfavorável para o partido.
ISTOÉ - Como o sr. projeta a aliança para 2010? Os dois partidos estarão juntos numa única candidatura?
Agripino - Asseguro que por parte dos Democratas haverá o desejo de vitória, que vai estar acima de ambições partidárias. Em 2010 vai prevalecer o sentimento da racionalidade. Pelas conversas que temos tido, a relação dos Democratas e dos tucanos ensejará esse diálogo movido a compreensão.
ISTOÉ - Pelo peso de São Paulo, a tendência natural é o apoio do DEM à candidatura de José Serra?
Agripino - Isso vai ser considerado na época oportuna. É claro que a relação de Kassab é muito mais robusta com Serra. Mas o assunto 2010 só vai ser tratado depois das eleições municipais.