23/02/2009
Morre o barbeiro Toinho Guedes
[0] Comentários | Deixe seu comentário.Morreu agora há pouco no Hospital da Unimed, após sofrer um enfarte, o barbeiro Toinho Guedes.
Aos 86 anos, completados sexta-feira, ele foi, durante muito tempo, o barbeiro oficial do ex-ministro Aluízio Alves, do senador Garibaldi Filho, do senador José Agripino Maia, do deputado Lavoisier Maia...
Cliente dos novos tempos, o jornalista Rubens Lemos escreveu uma crônica em seu site, em novembro passado, quando Toinho Guedes sofreu um AVC e parou de trabalhar, deixando o ofício com o filho Beto.
Agora, sucessor oficial do pai, que se foi.
O velório de Toinho Guedes será no Centro de Velório Morada da Paz, em Lagoa Seca, e o enterro está marcado para amanhã de manhã, no cemitério do Alecrim.
Abaixo, a crônica de Rubinho Lemos para Toinho Guedes.
TOINHO GUEDES - 29.11.2008
www.rubenslemos.com.br
O mundo moderno nos entope de defeitos. Nós, os tradicionais, os saudosistas, os que dispensam foguetórios e vaidades. Aos 38 anos, me orgulho de parecer mais velho, pelo menos de espírito. Mais ranzinza, menos conformado, caseiro acima da lógica.
Já disse aqui mesmo que detesto viajar, a não ser pela obrigação do trabalho. E, na última vez que saí de Natal, descobri outra mania: A preocupação com uma barba que quase não existe, senão na minha teimosia.
Nada com a beleza, que em mim nunca existiu, tampouco na esperança de que algum dia algum mágico me refaça louro, alto, rico e cínico. Quero não, prefiro assim. Magro com barriga, quase careca, remediado e sem falsidade.
Minha preocupação, claro, de natureza aparente, é com a higiene. Nada contra os barbudos, jamais. Só não gosto de pêlo em excesso, me dá uma impressão de desleixo. Para evitar maledicências: A impressão é quando eu mesmo me olho no espelho, não tenho nada a ver com as penugens de ninguém.
Ter um barbeiro é conservar um amigo, um confessor. Um cúmplice. A barbearia é um universo particular, um centro de soluções, uma concentração de sábios, matemáticos, catedráticos, donos das verdades e das melhores mentiras.
Tarde dessas, em Brasília, quase me arrancam o lábio superior. O barbeiro era desconhecido e impessoal como a própria cidade. Sem o menor sentimento. Cortou-me e lascou-me uma bandinha de sal para estancar o sangue. Pior: parecia um bedel, não tinha o menor papo para nada. Tentei futebol, política e até a mulher-melancia. Nada. Um túmulo estava de navalha à mão.
Quando estou longe, sei o quanto Natal representa em meu coração. E agora, mais ainda a falta de Antônio Guedes, o velho barbeiro, o sorriso de menino, a palavra certa na hora precisa. E o estilo no corte. Toinho Guedes agora está em casa, recuperando-se de um Acidente Vascular Cerebral.
Vou uma ou duas vezes por semana ao seu salão. Meu cabelo e barba estão nas mãos de Beto, seu filho. E lá também tem Celinho, um pedaço do coração do velho Toinho. Márcia e Ritinha, artérias fundamentais.
Se os seus grandes amigos o quisessem mais feliz, não abandonariam sua casa. Saindo, fazem sofrer um homem que se confunde com a cidade. E que jamais perderá a dignidade. Maior que seja a necessidade.