25/12/2012
Bahia de luto com a morte de Dona Canô
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Morreu por volta das 9 da manhã de hoje, o símbolo do Estado: Dona Canô.
Mãe de Caetano Veloso e Maria Bethânia.
Aos 105 anos, Dona Canô morreu em casa, em Santo Amaro da Purificação, na Bahia, onde se recuperava de uma isquemia cerebral.
O velório, em casa, aberto só para parentes e amigos, se estenderá até às 18h. Depois o corpo será levado para o Memorial Caetano Veloso, na Praça da Purificação, para as despedidas dos baianos.
Dona Canô será enterrada amanhã, às 10h, no cemitério de Santo Amaro.
Leia biografia de Dona Canô:
Por G1
Nascida em 16 de setembro de 1907, Claudionor Viana Teles Veloso construiu sua história no Recôncavo Baiano, no município de Santo Amaro da Purificação. Os filhos biológicos são Clara, Roberto, Caetano, Bethânia, Rodrigo e Mabel. Dona Canô adotou as filhas Irene e Nicinha. Era viúva de “Seu Zeca”, que morreu em 1983, com 82 anos.
Conhecida por sua personalidade forte e receptividade, Dona Canô participava sempre da tradicional Festa de Reis em Santo Amaro, que reune milhares de pessoas em toda região. A celebração de seus aniversários também se tornou um marco, atraindo muitas pessoas para a festa.
[caption id="attachment_57591" align="aligncenter" width="300" caption="Dona Canô em 2008, quando completou 101 anos (Foto: Edgar de Souza/G1)"]
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Dona Canô sempre aparecia vestida toda de branco em seus aniversários. Quando completou o centenário, a missa foi celebrada pelo então arcebispo primaz do Brasil, cardeal Dom Geraldo Majella. De Dom Geraldo, Dona Canô recebeu a imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida.
Depois das comemorações em Santo Amaro, Dona Canô foi para um hotel festejar os 100 anos. Ela foi recebida pela família e pelos amigos mais próximos. O então ministro da Cultura, Gilberto Gil, entregou à Dona Canô uma carta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em julho de 2011, Lula visitou pessoalmente Dona Canô em Santo Amaro.
Atrás da aparência frágil, com um corpo miúdo e fala mansa, Dona Canô escondia a longevidade de poucos e a saúde considerada “de ferro”. Ela repetiu em diversas oportunidades que era dona de uma fama que sempre disse não entender o motivo, referindo-se ao intenso interesse da imprensa sobre ela e sua vida em Santo Amaro da Purificação.
Autêntica e mãe de dois grandes nomes da Música Popular Brasileira, Dona Canô se tornou um símbolo não só de Santo Amaro, como do Recôncavo Baiano. Sempre lutou para melhorar a cidade e acolheu os moradores como uma mãe.
[caption id="attachment_57590" align="aligncenter" width="300" caption="Fachada da casa de Dona Canô em Santo Amaro (Foto: Egi Santana/G1)"]
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O sobrado de número 179, no centro de Santo Amaro, se tornou um dos pontos turísticos do município. A casa onde residiu Dona Canô e a família Veloso sempre esteve com as portas abertas para baianos e turistas.
No casarão antigo, as paredes são cobertas de fotografias e histórias dela e de toda família. Fotografias com o ex-presidente da república Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-senador Antônio Carlos Magalhães ganham destaque na parede da sala.
Nas entrevistas que dava para a imprensa, Dona Canô costumava destacar a felicidade que sentia ao poder ter vivido o suficiente para acompanhar o crescimento dos filhos e netos, tendo até conhecido os bisnetos. Sua lucidez a acompanhou até os últimos dias de vida.
Ativa, era sempre Dona Canô quem cuidava das contas de casa e decidia o cardápio na cozinha. Também sempre foi muito conhecida pela vaidade. Foi uma mulher marcada pela religiosidade. Em casa, guardava há anos várias imagens religiosas. A maioria foi dada por amigos e até por desconhecidos. Foi com a ajuda da matriarca que a festa de Nossa Senhora da Purificação transformou-se em um evento famoso na Bahia.
Uma das principais comemorações de aniversário foram os 100 anos de Dona Canô em 2007. O dia foi de flores, presentes e visitas de amigos e dos filhos. Na igreja de Nossa Senhora da Purificação, foi realizada uma missa em homenagem à matriarca. A imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida foi levada de São Paulo especialmente para a ocasião. A matriarca dos Veloso ficou pouco tempo na igreja, porque se emocionoubastante. Maria Bethânia cantou "Romaria" em homenagem à mãe e assim que terminou a música, abraçou Dona Canô.
Sobre a história construída nos 105 anos de vida em Santo Amaro, Dona Canô disse em entrevista este ano que não conseguia esquecer de quando passeava com os amigos nas usinas de açúcar da cidade. “A cidade cresceu, as coisas ficaram longe, os bondes eram importantes”, contou ao G1 no mês de setembro.
Homenagens
Cantada por Daniela Mercury, a composição de Caetano Veloso que leva no título o nome da mãe "Dona Canô" descreve a relação que a matriarca tinha com seus familiares e amigos.
A vida de Dona Canô também inspirou o historiador Antônio Guerreiro de Freitas, que publicou em 2009 a biografia "Canô Velloso, lembranças do saber viver", escrita também por Arthur Assis Gonçalves da Silva, que faleceu antes do término da obra.
Dona Canô também está no nome do teatro fundado há nove anos em Santo Amaro com a sua contribuição. A filha Mabel Velloso lançou o livro “O Sal é o Dom – Receita de Mãe Canô” reunindo receitas feitas pela mãe.
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Veja abaixo algumas frases marcantes de Dona Canô:
Religiosidade
-Antes da cerimônia no seu aniversário de 105 anos, ela questionou: “Cadê a missa? Não vamos logo para a missa, não?”.
-"A fé é tão importante que eu tô viva, não é? Acho que cheguei até essa idade porque acredito em Deus e porque sempre vivi com a minha família, com pessoas do meu lado, com casa cheia. Acho que esse é o segredo”.
Sobre os filhos
-“As pessoas me conhecem por causa de Caetano, já chegam aqui perguntando por ele. Mas eu nem sei direito por onde ele anda, o que vou responder?”, perguntou em 2012, antes de completar 105 anos.
-“Todos para mim são iguais. Maria Bethânia é incrível, parece mentira, onde ela estiver me telefona. Caetano é diferente, não tem tempo. Não para”.
-“Tinha uma senhora que era muito minha amiga. E mandava carta. Quando prenderam Caetano, eu fui lá e ela disse: ‘Não fique preocupada, Caetano está bem, está sentindo que não está em casa, mas está bem’”. Na ocasião dos 70 anos do filho Caetano Veloso, lembrando o exílio do filho.
Sobre a vida
-“Tô recebendo essa graça de Deus de 100 anos com muita satisfação e alegria. Porque reunir meus amigos, meus filhos, todos os meus parentes de longe vieram. Pra mim, isso é que é a minha festa”.
-"Não mereço tanto. Não sei quantos anos eu ainda tenho pela frente, mas o que Deus quiser está de bom tamanho. Estou feliz porque minha família está aqui, meus filhos, netos e bisnetos", revelou a matriarca em 2008, quando completou 101 anos.
-“Na verdade eu tô pouco me importando com idade. A minha vida é essa até o dia que Deus permitir. Se ele quiser que eu viva, eu vivo." Com um porém: "Tem que ser alegre, porque senão, é pior”. Afirmação foi dada no dia do seu aniversário em 2012.
Sobre o marido
-“A gente se conheceu na rua, lembro dele passando por mim, tudo foi diferente a partir dali”. Revelação foi sobre o dia em que conheceu o marido, “Seu Zeca”.
Fama
-“Eu queria saber porque é que fica essa agonia comigo. Eu não sou nada, nunca fui nada!”.
Sobre longevidade
-“Paciência. Porque a pessoa impaciente e nervosa, que briga por tudo, não pode viver bem”. Dona Canô falou sobre o segredo da longevidade em 2007.
Sobre Dorival Caymmi
-"Dorival [Caymmi] não foi só um grande artista, isso todo mundo já sabe, ele foi um grande homem". Em 2008 ao saber da morte do compositor baiano, de quem era amiga.
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