10/05/2014
Copa: Fifa culpa Lula por número recorde de sedes e diz que estrangeiros vão enfrentar muitos problemas no Brasil
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TORCEDORES VÃO ENFRENTAR 'O MAIOR DESAFIO' DURANTE A COPA, DIZ VALCKE
MUNDIAL - Secretário-geral da Fifa diz que Lula pressionou por número alto de cidades-sede
De São Paulo
Nem os jogadores nem a imprensa: para o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, serão os torcedores que enfrentarão mais dificuldades durante a Copa no Brasil.
"O maior desafio será para eles", disse Valcke, durante entrevista coletiva ontem, em Zurique (Suíça).
O dirigente comparou o Brasil à Alemanha, que sediou o torneio há oito anos, ao aconselhar torcedores a tomar precauções de segurança e a planejar sua estadia.
"Não apareça pensando que é a Alemanha, que é fácil se locomover pelo país. Na Alemanha, você pode dormir no seu carro, você não pode fazer isso [no Brasil]".
"Minha mensagem para os torcedores seria: apenas certifique-se de que você está organizado para ir ao Brasil", disse o francês.
"Você não pode dormir na praia, primeiramente porque é inverno. Certifique-se de organizar sua acomodação, você não pode simplesmente chegar com uma mochila e começar a andar, não há trens, você não pode dirigir [de uma cidade-sede para outra]", prosseguiu.
"Isso é uma grande festa e é necessário que se possa desfrutá-la. Se você passa cinco horas na entrada de uma discoteca sem poder entrar, terá perdido a noite e não deveria ser assim", comparou.
NÚMEROS DE SEDES
Valcke também comentou o número alto de sedes da Copa do Mundo no Brasil --são 12 cidades, contra 9 na África do Sul (2010), por exemplo.
Críticos dizem que as diversas sedes espalhadas pelo país contribuíram para o atraso na construção de estádios e de projetos de infraestrutura, além de inflar os gastos.
Segundo o dirigente, a Fifa foi convencida a concordar em tantas cidades-sede pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Como você diz [antecipadamente] que isso não vai funcionar?", disse Valcke.
"É verdade que você multiplica o risco ao ter mais estádios. Mas você enfrenta uma situação quanto tem um governo e um presidente, à época Lula, que está explicando para você que a Copa do Mundo deve ser para todo o Brasil e não para algumas cidades", afirmou.
O ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) Ricardo Teixeira, que também era parte do comitê-executivo da Fifa, foi igualmente persuasivo, disse.
JOGOS E CIDADES
A logística foi complicada ainda mais porque os organizadores, na época, decidiram que as equipes jogariam suas partidas de grupo em três diferentes locais ao invés de ficarem no mesmo lugar.
"Eu pensava que a questão logística era dividir as 32 equipes em quatro grupos e evitar movê-las para [outras] zonas do país", disse Valcke.
Mas, novamente, a Fifa foi dissuadida a mudar de planos porque os organizadores brasileiros queriam que a seleção brasileira jogasse no máximo de cidades possível.
"Também foi um pedido do Brasil porque eles não queriam que o Brasil jogasse apenas em um canto do país, e que eles não poderiam fazer o Brasil viajar e deixar todos as outras equipes apenas em um lugar", afirmou.
Em sinal de que a relação com o governo brasileiro está desgastada, Valcke disse, ao comentar sobre a parte de telecomunicações, que a Fifa receberá os estádios no próximo dia 21 para fazer as instalações técnicas.
"Então, serão nossas equipes. Assim, ao menos, se tenho de gritar com alguém, não poderão criticar porque tenho o direito de fazê-lo."
Por outro lado, disse que a Fifa já assegurou o retorno financeiro. "Já temos o sucesso financeiro, o sucesso na venda de entradas, nunca havíamos vendido tantas."
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Outro Lado
BRASILEIROS NÃO COMENTAM AS DECLARAÇÕES
A reportagem tentou ouvir o ex-presidente Lula sobre as declarações do secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, mas o seu assessor de imprensa José Crispiniano informou que não levaria o assunto ao ex-presidente.
"O jornal sabe. Todo mundo sabe no Brasil quem fez a tabela, quem escolheu as cidades-sede", justificou.
A Fifa queria limitar a Copa para no máximo dez cidades-sede, mas cedeu ao governo brasileiro e da CBF, que argumentaram que o torneio deveria ser levado a todas as regiões do país, de "dimensões continentais".
As 12 cidades foram confirmadas no dia 31 de maio de 2009. Embora formalmente a escolha fosse da Fifa, havia forte pressão política de governadores e prefeitos sobre a CBF e o então presidente Lula para que suas cidades entrassem para o evento.
Ficaram de fora candidatas como Belém, Florianópolis e Goiânia, entre outras.
A Folha procurou o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, e a CBF, mas eles tampouco comentaram a entrevista.