08/01/2016
Jurandy Nóbrega morreu com vontade de voltar à redação e escrever uma grande manchete
[0] Comentários | Deixe seu comentário.Encontrei o jornalista Jurandy Nóbrega pela última vez no dia 7 de abril, na Assembleia Legislativa.
Era o Dia do Jornalista e ele ali recebia homenagem.
Jurandy sempre foi polêmico.
Do tipo ‘sem papas na língua’, dizia o que bem queria, escrevia o que bem interpretava. Irritou muitos políticos, daqueles que só gostam de ouvir o que lhe faz bem.
Jurandy não se preocupava se o tom de sua matéria iria agradar ou desagradar. Queria ser lido. Queria ser comentado.
E foi assim na Tribuna do Norte, no Diário de Natal, no Jornal de Natal, na Gazeta do Oeste e, por último, onde nos encontramos, no Jornal de Hoje.
De gerações bem diferentes, Jurandy foi ser repórter de política, sua especialidade, quando eu era editora geral do vespertino, num dos melhores momentos do jornal.
Ele já andava com a saúde abalada, mas a vontade de produzir manchetes continuava viva dentro dele.
Na editoria de política, não conseguia convencer os colegas. Era visto como ultrapassado, e até desacreditado. E ele sabia disso.
E foi aí que criamos laços profissionais.
Jurandy era frágil. Gostava de beber, e quando exagerava, chegava a ser internado.
Uma vez fui visitá-lo no São Lucas. A única colega de redação.
Eu apostava na vontade dele. Sabia que tinha como fazê-lo se sentir o grande repórter de política que sempre foi. E fiz.
Sem pauta da editoria à qual fazia parte, se dirigia à minha mesa e comigo discutia os acontecimentos do momento. Em que poderíamos apostar naquele dia?
E lá ia Jurandy para sua mesa, pegava o telefone, ouvia fontes e, no final da manhã, quando eu ia ‘desenhar’ a capa do jornal, qual a matéria que tinha a cara da manchete principal? A de Jurandy.
E com um detalhe, para ser lembrado a quem o considerava desacreditado: sem desmentido no dia seguinte.
Dele, lembro sempre como um senhor com espírito de Foca na redação. Sempre disposto a fechar a melhor matéria.
De mim, ele sempre rasgou elogios, e me agradecia de público.
No dia 31 de dezembro, quando a gente festejava a passagem do ano, Jurandy, se não estivesse internado na UTI, teria festejado a passagem de muitos anos.
Aniversariante do último dia do ano, chegou aos 71. Ainda com o sonho, como dizia em seu twitter – também sem papas na língua – de voltar a uma redação, a uma emissora de rádio.
Que Deus o receba neste dia, meu amigo querido, com uma grande manchete.
‘Jurandy Nóbrega chega ao reino dos céus’.
Daqui eu vou apenas ler.
Fotos Thaisa Galvão