10/03/2016
Peemedebista mais respeitado do Brasil, Pedro Simon acha que PMDB tem que deixar o governo e entregar cargos
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ENTREVISTA
Pedro Simon: PMDB deve deixar Dilma, antes de Lula e o PT ficarem totalmente nus
Em entrevista a O Financista, o ex-senador gaúcho afirma que PMDB deve pensar no país, e deixar as eleições de 2018 para depois
SÃO PAULO – Durante mais de 50 anos de vida pública, o ex-senador Pedro Simon (PMDB-RS) consolidou-se como uma das referências morais da política brasileira, desde o início de sua carreira, como deputado estadual, em 1963.
Com a experiência de quem vivenciou graves momentos do país, como a ditadura e o impeachment de Fernando Collor de Mello, Simon está tão desnorteado com a crise atual, quanto o mais neófito dos parlamentares.
“Tenho 50 anos de política e não nunca vi uma situação parecida”, afirmou, em entrevista por telefone a O Financista.
Por mais confuso que o cenário esteja, Simon tem, ao menos, uma convicção: com a Lava Jato se aproximando do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de sua afilhada política e sucessora, Dilma Rousseff, o PMDB deve romper formalmente com o governo, entregar seus cargos na administração federal e adotar uma postura “republicana”, capaz de liderar um governo de reconciliação.
Isso significa que Simon, com toda a sua experiência política, acredita que Dilma sofra um impeachment? Ele suspira no telefone e responde, com uma voz cansada: “é uma situação dramática; não sei onde chegaremos...”
Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista concedida pelo ex-senador na noite da quarta-feira (9):
O Financista: Para o senhor, o PMDB deve ser independente ou deixar mesmo o governo Dilma?
Pedro Simon: O PMDB deve sair do governo. Não é patriótico que saia atirando, fazendo uma oposição irresponsável. Temos que garantir a estabilidade, nesse momento difícil, e é o que vamos fazer. E precisamos dar força total à Lava Jato. O que o (juiz Sérgio) Moro, o (procurador-geral da República Rodrigo) Janot estão fazendo pode se tornar um dos momentos mais importantes da história brasileira. É importante também, porque o STF, a Polícia Federal e o Ministério Público estão agindo com total independência. O momento está ficando ainda mais delicado para Lula.
O Financista: Como conciliar a eventual saída do PMDB do governo com o fato de o vice-presidente Michel Temer ser do partido?
Simon: Temer provavelmente será reconduzido à presidência do PMDB nesta convenção. Caberá a ele comandar essa questão. O importante é que defender a liberdade e a autonomia do partido não o impede de exercer seu papel de vice-presidente. O que não se pode fazer, a pretexto de não paralisar o Brasil, é colocar uma pedra sobre o assunto e não se discutir a situação. Todo mundo precisa ceder um pouco agora, principalmente o PT. Nós não inventamos a crise. As denúncias são cada vez mais frequentes e são muito consistentes. Lula está ficando cada vez mais nu e, à medida que as investigações avançam, outras denúncias podem surgir.
O Financista: Para o senhor, Dilma vai sofrer um impeachment?
Simon: É uma situação dramática. O pedido está nas mãos do (presidente da Câmara, Eduardo) Cunha, que também está com o mandato ameaçado. O STF engavetou a decisão sobre o rito do impeachment. Nesta semana, parlamentares foram até o Supremo pressionar para que o assunto ande. O STF promoveu uma intervenção branca, ao não se pronunciar mais. Como é possível deixar isso parado há tantos dias? É preciso se manifestar e deixar que o Congresso termine de encaminhar a questão. Tudo está muito imprevisível. Este não é um processo como o do (ex-presidente Fernando) Collor. Ele tinha um ego gigante, doentio, mas não pressionou como estão pressionando hoje, ligando para políticos, jornalistas...
O Financista: Mas o senhor acredita que Dilma sairá?
Simon: O PT, obviamente, não quer o impeachment. O PMDB veria o vice-presidente Temer assumir o governo. Já o PSDB é a favor da cassação da chapa pelo TSE, pois poderia ganhar as novas eleições. Há muitos interesses sendo julgados neste momento. Eu tenho 86 anos, sendo 50 anos de vida pública. Nunca vi uma situação parecida, porque as decisões estão sendo tomadas com base em interesses particulares. Estamos muito longe de sermos republicanos.
O Financista: O senhor já afirmou que Temer faria, eventualmente, um governo de reconciliação. Isso supõe ter a coragem de adotar medidas impopulares para resgatar o país da crise, mas o PMDB quer ter candidato próprio em 2018. Não são objetivos conflitantes?
Simon: Um governo de reconciliação nacional dependerá da forma como rompermos com o atual governo. Devemos apoiar um amplo entendimento das forças políticas e sociais. E a eleição está tão longe... agora, precisamos ver como sair da crise. As coisas estão tão delicadas, que não se pode colocar interesses pessoais à frente do Brasil. O que falta, hoje, é uma voz que fale pelo país. Tem muita gente falando pelo Lula, pela Dilma, pelo PT, por quem é contra o governo e o PT... enquanto isso, o Brasil chegou ao chão. Os jornais estrangeiros publicaram que este é o maior escândalo da história mundial, já vivido por uma democracia (pausa). Sinceramente... não sei onde chegaremos...
O Financista: A data da convenção do PMDB não se tornou inconveniente, já que é um dia antes das manifestações contra o governo, e ninguém sabe, ao certo, qual será a adesão?
Simon: As coisas estão esquentando tanto que eu não sei nem o que vai acontecer até sábado... mas há assuntos burocráticos que precisam ser tratados, como a eleição da executiva nacional... acho que vamos caminhar para isso.