25/11/2016
Crise no Brasil hoje tem nome: Geddel Vieira
[0] Comentários | Deixe seu comentário.Da página Online da revista Época: A crise criada por Geddel Ao misturar seus negócios imobiliários com os de governo, o ministro espalhou a crise pelo Planalto LEANDRO LOYOLA Geddel Vieira Lima, do PMDB, ministro da Secretaria de Governo, um dos três auxiliares de maior confiança do presidente Michel Temer, um sujeito despachado, que fala palavrões e expressa sua lógica política de forma direta e crua, chorou. Emocionou-se quando o líder do governo na Câmara, André Moura, do PSC, e outros líderes partidários disseram em uma reunião no Palácio do Planalto que o defenderiam no plenário e fariam uma manifestação pública em seu favor. O coração amoleceu, as lágrimas vieram e Geddel agradeceu aos companheiros. Ele precisava dessa ajuda. Geddel sentiu muito de perto a ameaça de perder um cargo do qual precisa muito no momento. Fora acusado por Marcelo Calero, que deixara o Ministério da Cultura, de usar sua posição de ministro, de integrante do círculo mais próximo de Temer, para dobrar a decisão de um órgão público em favor de um interesse econômico pessoal. Negava ter culpa no cartório, mas a realidade contrariava suas palavras. Geddel se desgastava pelo apego ao prédio La Vue, que ainda nem existe. O projeto da construtora baiana Cosbat prevê a construção desse edifício de nome francês, de 30 andares e sem estilo em um dos pedaços históricos mais bonitos de Salvador, a capital berço do Brasil. O plano era encravar o La Vue na Ladeira da Barra, uma rua de casarões históricos tombados, a poucos metros da igreja de Santo Antônio da Barra – um patrimônio de 400 anos de história – e perto do Farol da Barra – de pouco mais de 300 anos –, numa das primeiras áreas ocupadas pelos portugueses no século XVI. Os moradores do envidraçado La Vue do século XXI ficariam em frente a uma das mais bonitas praias da cidade, com direito a uma vista ímpar da Baía-de-Todos-os-Santos e do nascer e do pôr do sol. Mas os cerca de 100 metros de altura do La Vue destoariam do entorno arquitetônico tombado. O escritório do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan, na Bahia topou a ideia, mas a direção nacional vetou. Na semana passada, Marcelo Calero contou ao jornal Folha de S.Paulo que Geddel o pressionou ostensivamente para que o Iphan liberasse o La Vue. Geddel tem um compromisso de compra de uma unidade do La Vue, um apartamento de 255 metros quadrados, avaliado em R$ 2,6 milhões. Segundo Calero, diante do embargo da obra, Geddel disse: “E aí, como é que eu fico nessa história?”. No relato de Calero, Geddel ameaçou intervir no Iphan e até acionar o presidente Temer. Nesta quinta-feira, dia 24, a Folha revelou o depoimento de Calero à Polícia Federal (PF), dado no sábado (19), um dia após ele deixar o cargo. Nele, declarou que, depois, Temer o “enquadrou” por causa do desconforto causado a Geddel e determinou que ele encaminhasse o assunto à Advocacia-Geral da União (AGU), onde seria resolvido – como se já não tivesse sido resolvido pelo Iphan. À PF, Calero disse que ao final da reunião Temer ainda disse que “a política tem dessas coisas, esse tipo de pressão”. Geddel nega ter ameaçado Calero. Garante que insistiu no assunto porque estava preocupado com quem, como ele, investiu no prédio. Geddel realmente se empenhou, como mostra a história do projeto. Um primo de Geddel, o advogado Jayme de Souza Vieira Lima Filho, foi encarregado pela construtora Cosbat de constituir a empresa Porto Ladeira da Barra, que gerenciaria o dinheiro da obra. Jayme, primo de Geddel, é sócio do advogado Igor Andrade Costa, que já defendeu Geddel e o PMDB em ações no Tribunal Regional Eleitoral da Bahia. Igor, advogado de Geddel, e o estagiário Afrísio Vieira Lima Neto, sobrinho de Geddel, tinham uma procuração da Porto Ladeira da Barra para representá-la em discussões com o Iphan. Todos os elevadores do La Vue levam a Geddel. Erra feio quem confunde o jeito meio truculento, a lógica seca e os palavrões de Geddel com inabilidade. Geddel entende de política como pouca gente em Brasília. É vocacionado para ela. Viveu em Brasília quando seu pai, Afrísio, exerceu mandatos de deputado federal entre as décadas de 1970 e 1980, quando os políticos moravam na capital. Geddel foi colega do compositor e vocalista da Legião Urbana, Renato Russo, no Colégio Marista. Na biografia de Renato escrita por Carlos Marcelo, O filho da Revolução, Geddel parece como um garoto esperto, que tinha um Opala, não fazia muita questão de se esforçar na escola e dizia que seria político. Causava horror a Renato, que o considerava “insuportável” e o chamava pelo apelido “Suíno”. Maldades adolescentes à parte, o tempo tornou Geddel um bom articulador. Ele forma com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o secretário Moreira Franco o trio de auxiliares mais próximos de Temer e de sua confiança. Geddel foi o primeiro da turma de Temer a levar uma pancada mais forte. Mas vai ficar no cargo porque Temer não rifa os seus e não pode prescindir dele em momento tão delicado. Para mantê-lo, Temer recorreu ao mesmo estilo usado por seus antecessores Lula e Dilma quando o alvejado por denúncias era um preferido. Simplesmente não deu explicações públicas. Vetou a entrada de jornalistas na posse – a portas fechadas – do sucessor de Calero, o deputado Roberto Freire, do PPS, para evitar perguntas inconvenientes. Nem mencionou Calero no discurso, como é praxe nessas horas – o que reforça o depoimento do ex-ministro à polícia. Não há semelhanças entre o tratamento dispensado por Temer a Geddel e o dispensado ao senador Romero Jucá, outro companheiro de PMDB. Jucá não pertence ao círculo tão íntimo de Temer. Jucá foi alvejado pela Lava Jato; Geddel, não – pelo menos ainda não. Esta possibilidade é que determina sua necessidade de manter-se em um cargo com direito a foro no Supremo Tribunal Federal, distante do juiz Sergio Moro, em Curitiba. Depois do que aconteceu a Eduardo Cunha (Sérgio Cabral nem é lembrado), ninguém no PMDB quer viver sem foro. O depoimento de Calero favorece Geddel, pois joga a controvérsia no colo de Temer. A Geddel restou o incômodo de uma investigação da Comissão de Ética da Presidência da República, aberta por decisão unânime de seus sete integrantes. Unanimidade obtida, na verdade, por constrangimento. Durante a reunião que tratou do assunto, na segunda-feira, dia 21, o advogado José Leite Saraiva Filho pediu vistas para conhecer melhor o assunto; seu ato adiaria a decisão para 14 de dezembro. A pedido de Geddel, de quem é conhecido, Saraiva voltou atrás e garantiu a unanimidade. Um dia depois, no entanto, Saraiva declarou-se impedido porque tornou-se pública sua suspeição para tratar do assunto. Conhecido de Geddel, Saraiva já prestou serviços a uma entidade que representa construtores na Bahia – inclusive a Cosbat, construtora do La Vue. Todos os elevadores do La Vue levam a Geddel.