17/01/2018
No Rio, Lula critica presidente do tribunal que vai julgá-lo e diz que PF, MP e o juiz Sérgio Moro mentem
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Rio de Janeiro - A uma semana do julgamento de sua apelação pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) evitou atacar diretamente, durante evento nesta terça-feira, no Rio, os desembargadores que irão analisar seu caso, no dia 24, em Porto Alegre.
Ele não poupou, no entanto, o presidente do Tribunal, o desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz.
“Não vou falar mal de juízes de Porto Alegre porque não os conheço. Não posso julgar pessoas que não conheço”, disse o ex-presidente, que comentou na sequência declarações do desembargador Flores Lenz.
“Acho estranho o presidente de um tribunal não ler a sentença e dizer que ela é irretocável. Só se for uma leitura dinâmica. Esse cidadão é bisneto do general que invadiu Canudos e matou Antonio Conselheiro. Quem sabe ele me veja como um cidadão de Canudos”, disse Lula.
O ex-presidente criticou ainda a reunião realizada pelo presidente do Tribunal com a ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), para pedir para discutir as ameaças recebidas pelos desembargadores que julgarão seu caso.
“Esse cidadão vai a Brasilia pedir proteção sem explicar quem está ameaçando”, disse ele.
Lula participou nesta terça-feira do evento "Pela defesa da democracia e de Lula", com artistas e intelectuais, no Teatro Oi Casa Grande, no Leblon.
O ex-presidente chegou por volta das 19h40 num carro preto e entrou rapidamente no teatro, apenas acenando ao público que o aguardava do lado de fora.
Estavam presentes no evento artistas como Beth Carvalho, Noca da Portela, Osmar Prado, Chico Diaz, Bemvindo Sequeira, Aderbal Freire Filho, Tonico Pereira, o músico Otto, o comediante Gregorio Duvivier, além de políticos, como os senadores Gleisi Hoffmann e Lindbergh Farias, o ex-ministro Celso Amorim, entre outros. Chico Buarque não compareceu.
O ato no Leblon foi um dos dois previstos antes do julgamento de sua apelação pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), marcado para o dia 24 em Porto Alegre.
Na quinta-feira, Lula receberá o apoio de militantes e simpatizantes em São Paulo, na Casa de Portugal.
Durante seu discurso, Lula voltou a atacar os meios de comunicação. Ele disse ainda que não vai governar o país para o mercado, mas para o povo.
“Agora eu quero ser [candidato] para mostrar para esse bando de gente a aprender a falar menos de corte, menos de contenção de gastos e menos de mercado, e entenderem que nação é construída de homens e mulheres”.
Para Lula, a população estava “anestesiada” durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
“Eles foram muito sábios. Inventaram uma doença, chamada PT e Dilma Rousseff. E resolveram dar uma anestesia na sociedade e disseram que iam fazer uma cirurgia no país”, afirmou.
Ainda sobre a imprensa, Lula disse que o pré-candidato a presidente da República Jair Bolsonaro "vai comer o pão que o diabo amassou, como aconteceu comigo". Lula se referia à cobertura que suas candidaturas receberam da imprensa.
O ex-presidente voltou a se declarar inocente. Segundo ele, a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e o juiz Sergio Moro mentem.
No discurso, que durou 54 minutos, ele mencionou até a devolução de R$ 1,4 bilhão da Lava-Jato para os cofres da estatal, comparando o valor ao acordo de US$ 3 bilhões entre a Petrobras e investidores na Justiça americana.
“Esse país deveria dizer que não vamos admitir que a Justiça americana decida com júri popular o que devemos pagar para eles, disse Lula, culpando o governo Temer. “Eles estão tentando acabar com o jeito de governador. Querem transformar o Brasil no Caldeirão do Huck”.
Do lado de fora do teatro, que fica colado no Shopping Leblon, espaço de marcas de grife e frequentado por pessoas de alto poder aquisitivo, um grupo de pouco mais de 30 pessoas convocado pelo movimento Vem pra rua manifestou-se pela prisão do ex-presidente. Vestidos de verde e amarelo, exibiam cartazes a favor do juiz Sérgio Moro.
Também na porta do teatro, apoiadores do ex-presidente gritavam palavras de apoio a Lula. Um grupo de capoeira organizou uma roda e um grupo de mulheres fizeram ato, calcinha e sutiã, com “Fora Temer” escrito no corpo. O evento foi para convidados, mas parte dos apoiadores foi autorizada a entrar mesmo sem convite.
Nos discursos durante o evento, muitos ataques contra o presidente Michel Temer, o juiz Sérgio Moro e o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
O ator Osmar Prado lembrou que Mandela foi condenado e depois governou seu pais. “Lula está sendo condenado pelo abuso de ser nordestino com curso primário que governou este país e deu certo”, disse.
O ator Gregorio Duvivier provocou, com humor, em seu discurso, um dos primeiros da noite:
“Fico tão feliz de ver gente vermelho no Leblon”, disse ele, que defendeu o direito de Lula ser candidato, mas acrescentou ainda não saber em quem vai votar para presidente. “Não me xinguem, mas isso vai depender também das alianças dele”.
Já a senadora Gleisi Hoffmann chamou o processo criminal contra Lula de “surreal”.
“Não tem crime. Qual crime ele está sendo acusado? Receber apartamento que não é dele, que não tem escritura, não tem posse, nunca usufruiu. Petrobras nunca beneficiou o presidente Lula”.
A senadora, que mais cedo declarou que apenas com prisão e morte Lula seria preso, disse no discurso que o partido não será “manso vendo a desconstrução do país”.
“Somos pacíficos na nossa luta, mas não seremos mansos vendo direitos sendo retirados. Vamos mostrar nos atos que temos reação”, acrescentou.