19/03/2019
Em dia de visita à Casa Branca, Bolsonaro tem que se explicar à emissora preferida do presidente Donaldo Trump
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Favorita de Trump, Fox News fez perguntas incômodas a Bolsonaro nos EUA
Para emissora conservadora, 'nunca alguém emulou tanto' o presidente americano
Seguindo as preferências do americano Donald Trump, o presidente Jair Bolsonaro escolheu a Fox News para conceder entrevista exclusiva durante sua visita a Washington, nos EUA. A emissora conservadora, embora fortemente ligada ao chefe da Casa Branca, fez questionamentos sensíveis ao brasileiro, incluindo sobre o caso da vereadora Marielle Franco.
Chamando Bolsonaro de "Trump dos Trópicos", a bancada da Fox News disse que "nunca ninguém emulou tanto o presidente Trump quanto o presidente do Brasil", mencionando o estilo de suas postagens em redes sociais.
O presidente foi questionado sobre a postagem de uma cena escatológica filmada em um bloco, e respondeu que queria “mostrar o que o carnaval está virando”.
A emissora também afirmou que Bolsonaro "já defendeu a violência contra brasileiros LGBTQ", relembrando quando o presidente disse: "Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí. Para mim ele vai ter morrido mesmo".
Foram destacadas, ainda, as acusações de laços entre a família Bolsonaro e policiais militares ligados às milícias, além da foto do presidente com Elcio de Queiroz, um dos acusados de matar a vereadora Marielle Franco.
A Fox News é o meio de comunicação favorito de Trump, que mantém uma tensa relação com a imprensa desde a sua posse, em janeiro de 2017. Ele frequentemente ataca outros veículos tradicionais da mídia, acusando-os de "espalhar notícias falsas" e de atuarem como "inimigos do povo americano”.
Além disso, o presidente já barrou de suas entrevistas jornalistas de veículos renomados, entre eles repórteres de “New York Times”, “Los Angeles Times”, CNN e “Politico”, enquanto mantém uma relação de proximidade com a Fox News.
Na contramão, frequentemente concede entrevistas exclusivas à emissora e nelas faz anúncios sobre o governo.
No ano passado, Trump escolheu a ex-âncora e correspondente da Fox News Heather Nauert, de 48 anos, para ocupar o cargo de embaixadora dos EUA na ONU. Depois de ter se tornado uma personalidade da televisão americana quando comandava o programa "Fox and Friends" — ao qual o presidente costuma assistir —, ela já era, desde abril de 2017, porta-voz do Departamento de Estado, apesar da sua pequena experiência em política externa.
Apesar de Bolsonaro ser um declarado fã de Trump, a emissora não se absteve de fazer algumas perguntas incômodas ao presidente brasileiro.
Durante a entrevista com a repórter Shannon Bream, Bolsonaro foi questionado sobre o caso Marielle, comentando fotografia em que aparece ao lado de Queiroz:
— Sou um capitão do Exército brasileiro, e parte dos oficiais da polícia do Rio de Janeiro é de grandes amigos meus. Por coincidência, um desses suspeitos de ter matado a Marielle não era na verdade vizinho meu, mas morava do outro lado de uma outra rua [do condomínio] — disse. — Mas a mídia sempre me criticou e estabeleceu uma conexão. Nunca vi aquele homem no meu condomínio.
O presidente voltou a repetir, durante a entrevista, que o seu filho mais novo, Jair Renan Bolsonaro, lhe disse ter "namorado todas as meninas do condomínio" e que, por isso, não se lembrava da filha do sargento reformado da PM, Ronnie Lessa, o segundo acusado pelo assassinato de Marielle.
A Divisão de Homicídios da capital fluminense confirmou que os dois tiveram um envolvimento amoroso.
Em resposta às críticas da emissora, que chamou seus comentários sobre a comunidade LGBT de “incompatíveis com os valores americanos”, Bolsonaro disse que se tratavam de "comentários fora de contexto".
Usou a fórmula usada por Trump para criticar a imprensa — atribuindo culpa às "fake news" ou "notícias falsas" supostamente reproduzidas por grandes veículos.
— Se eu fosse tudo isso, eu não seria eleito presidente. Há um grande número de notícias falsas, mas a população aprendeu a usar redes sociais e pessoas não mais acreditam nem confiam na imprensa tradicional — afirmou. — Não tenho nada contra homossexuais nem contra mulheres e não sou xenófobo, mas quero ter minha casa em ordem. A definição de família para mim é uma só, aquela da Bíblia. Se você quer se envolver numa relação homossexual, vá adiante, mas não podemos deixar o governo levar isso para a sala de aula e ensinar isso para crianças de cinco anos.
Outro tópico de alta sensibilidade foi o jantar da comitiva de Bolsonaro com Steve Bannon, ex-chefe de campanha de Trump e hoje inimigo do presidente americano, no início da visita a Washington.
O brasileiro respondeu que seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, tem mais proximidade com o estrategista e que “não está lá para causar desconforto”.