23/11/2020
Cadê Amanda Gurgel, campeã de votos em 2012 e derrotada com mais de 8 mil votos em 2016?
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E por falar em vereador bem votado, cadê a professora Amanda Gurgel?
Filiada ao PSTU, Amanda estourou nas eleições de 2012 sendo a mais votada com 32.819 votos.
Em 2016 perdeu a eleição mesmo obtendo 8.002 votos, sendo a segunda mais votada em Natal.
Perdeu para a cláusula de barreira.
O partido não atingiu o quociente eleitoral e não teve como eleger sequer a segunda mais votada de Natal, perdendo apenas para o campeão de votos do ano, Raniere Barbosa.
E cadê a professora polêmica que em 2012 foi parar no palco do Domingão do Faustão, na TV Globo?
Quem descobriu foi o portal Saiba Mais, que em outubro publicou uma entrevista com Amanda Gurgel, que o Blog reproduz agora.
Entrevista feita pela jornalista Mirella Lopes.
Confira:
Agência Saiba Mais – Por onde você anda?
Amanda Gurgel: Estou morando em Sapucaia do Sul, no Rio Grande do Sul. Aproveitei a mudança para investir na minha vida acadêmica, que foi algo com que sempre me preocupei. Estudo políticas e gestão de processos educacionais na UFRGS, meu objeto de pesquisa é a gestão democrática da escola pública. Esse, aliás, foi um dos debates que travamos na Câmara porque a Prefeitura queria incluir mais um tipo de funcionário terceirizado nas escolas, o auxiliar financeiro que era uma espécie de tesoureiro. Nós defendemos o concurso público, mas a Prefeitura de Natal não acatou e hoje, inclusive, está na ilegalidade. A lei 147/2015 determina que seja realizado concurso público para esse cargo e a Prefeitura não realizou.
Por que decidiu fazer o mestrado fora, e não em Natal?
Quando saí da Câmara Municipal voltei a trabalhar normalmente em três escolas ao mesmo tempo. Na Escola Municipal Iapissara Aguiar de Souza, no bairro Potengi, Zona Norte de Natal, e em outras duas escolas estaduais. Tinha 324 alunos nesse período com turmas do 6º ao 9º ano. Admiro muito quem consegue, mas em Natal seria difícil pra mim trabalhar 50h, ter turmas com quase 350 alunos e ainda conseguir estudar ao mesmo tempo. Então, aproveitei essa mudança provocada pelo trabalho do meu marido para investir na vida acadêmica.
Como foi seu retorno para a sala de aula depois do período na política?
Alguns alunos eram pré-adolescentes (6° e 7° anos) e esses eram bem desligados. Nem sabiam de nada sobre mim. Os adolescentes do 8º e 9º anos já eram mais antenados, mas não ficavam falando muito sobre isso… só algumas meninas que gostavam de conversar sobre machismo, mas nada muito intenso. De vez em quando eles diziam que eu era rica porque era uma celebridade! Mas era tiração de onda, eles sabiam que eu nem era rica, nem era celebridade.
Que avaliação faz da política depois de passar por dentro do sistema? Voltaria a se candidatar?
Acho difícil voltar a me candidatar. O vereador não pode muita coisa, você faz um esforço gigantesco para aprovar projeto ou emenda, mas quando chega lá na frente o prefeito não executa. A lei 147/2015 que trata da questão do concurso para o que seria o tesoureiro da escola é um exemplo, já são cinco anos e a prefeitura não implantou. Dá a sensação de impotência para o mandato, isso me deixa até hoje em crise. Outra coisa que me deixava mal era que, como vereadora, recebia em um mês o que a escola recebia em um ano para funcionar. Pensava que fazia tanto, mas isso não chegava à escola. Valeria mais se aquela estrutura da Câmara não existisse e o dinheiro gasto para mantê-la fosse direto para a escola. Isso me incomodava muito. Mantive o mesmo padrão de vida e nunca recebi o valor integral. Nunca nem usei o cartão da conta onde ele caía e nem tinha a senha. Durante o período como vereadora continuei recebendo o meu salário de professora. A diferença ficava para o partido e administrávamos coletivamente, apoiando movimentos sociais e estruturando o partido. Na verdade, quando eu voltei para a escola, o meu salário estava uns 400 reais maior, porque como a equipe não recebia reajuste, optei por também não reajustar só o meu. Eu teria vergonha de fazer isso.
Continuo fazendo política, mas não institucional. Participei de todas as manifestações contra os cortes e intervenções que têm sido feitas pelo Governo Federal, inclusive da UFRGS. Pra se candidatar é preciso ter uma estrutura muito grande, com pessoas em quem você confie. Minha militância era muito partidária, agora continuo militando, mas de uma forma independente.
Sentiu alguma diferença ao se mudar do Rio Grande do Norte para o Rio Grande do Sul?
Muitas! Tanto pelo lado bom, quanto pelo lado ruim. Aqui as pessoas reclamam do transporte público e elas têm todo o direito de reclamar porque nunca é como de fato deveria, mas brinco com meu esposo que se tivéssemos esse transporte em Natal, teria economizado dez anos de velhice, cansaço e doença. Teria rejuvenescido uns dez anos! Aqui temos um trem que interliga toda a grande Porto Alegre e, para cruzarmos de um lado para outro da região metropolitana, não gastamos mais do que uma hora. Em Natal já existe a estrutura de um trem, mas que é sucateado e subaproveitado. Sempre digo que o Seturn (Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos) é o prefeito de Natal. Não importa quem seja eleito, é esse grupo de empresários que manda no transporte da capital. Isso só vai mudar quando elegerem um prefeito que tenha coragem pra enfrentar essa briga. Se não fosse o Seturn, o trem funcionaria.
Também contamos com um agente de saúde que vem deixar a receita na minha casa, porque a saúde aqui funciona. Não é perfeito, também há especialidades no SUS que você não tem acesso, mas há um serviço público que lhe atende. Até a pobreza é diferente, porque até as pessoas mais humildes têm uma certa dignidade, não são humilhadas como vemos aí. Não quero parecer aquele tipo de nordestina deslumbrada com o sul do país, definitivamente eu não sou! Acho que essa diferença se dá, justamente, pelo descaso dos governantes com as políticas públicas. A gigantesca diferença entre o RN e o RS está na condição de vida das pessoas em função da melhor qualidade dos serviços públicos que são prestados.
A parte difícil é a cultural. Você se sente diferente e percebe que as pessoas te olham diferente. Nunca fui discriminada, mas percebo que existe um olhar diferenciado, como se fôssemos o exótico. O sotaque que é engraçado, cantado. O fato do nosso sotaque não estar na grande mídia é uma exotização, quando ele é retratado nas novelas, por exemplo, aparece na fala de um porteiro, uma empregada. Não que não sejam profissões dignas, mas parece que no nordeste só existe esse tipo de atividade. Há uma associação com empregos de baixa escolaridade e remuneração, o que contribui para que haja um preconceito com todos nós.
Planeja voltar a Natal?
Tenho muitas saudades de Natal! Lembro dos lugares, das pessoas e, de certa forma, essa entrevista foi uma forma de voltar a dialogar que essa cidade que amo. Mas, da mesma forma que tenho orgulho da trajetória que construí aí, quero ter orgulho da trajetória que tenho construído onde estou. Estou tentando me estruturar, fazendo concursos. Do mestrado quero ir direto para o Doutorado. Gostaria de fazer concurso para professor dos IF’s e universidades federais e, hoje, o mínimo que você precisa ter é um doutorado. Quero investir na vida acadêmica e não sei se volto.
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Só para lembrar como surgiu Amanda Gurgel, que estourou as urnas em 2012, eis a participação dela no Domingão do Faustão.