6 de junho de 2021 às 11:41
O desabafo de Paulo Menezes, o empresário que mesmo vacinado perdeu a vida para a covid
[0] Comentários | Deixe seu comentário.
Foi sepultado às 11 da noite deste sábado, no cemitério Morada da Paz, em Emaús, o corpo do empresário mossoroense Paulo Menezes.
Menezes, que tinha comorbidade pulmonar, estava isolado desde o início da pandemia na sua casa da praia de Tibau.
Poucos dias depois de tomar a segunda dose da CoronaVac, contraiu o coronavírus e a família decidiu cuidar no apartamento de Natal.
Foi quando ele escreveu o desabafo, ressaltando os cuidados que sempre adotou para evitar a contaminação.
Mas o vírus violento não poupou o mossoroense, provando a quem não se cuida e nem cuida do outro, que não há regras para a contaminação.
Confira o desabafo do empresário de 74 anos que deixa a mulher Simone e os filhos Paulo e Sílvio.
Vivendo um pesadelo
Estou hoje, recolhido no meu “cantinho”, na praia de meio, em Natal. Isolado do mundo. Diferente de tantas outras vezes, em que do meu pequeno, porém aconchegante apartamento, me mostrava um cenário de uma beleza sem par. Ao fundo a ponte Newton Navarro, o estuário do rio Potengi e a beleza do majestoso oceano, que em dias ensolarados, como hoje, limpava a vista, extasiado com a beleza da cor verde azulada do sagrado mar.
Só que hoje, o que vejo é um
cenário totalmente diferente. Triste, interrogativo e indefinido. Mesmo assim, esperançoso, pois sou um homem de fé.
É que apesar de ter tomado duas doses da vacina para a Covid, o cuidado de sempre usar dupla máscara, sempre preocupado com o distanciamento social, até por pertencer ao grupo de risco, para minha surpresa, após um exame laboratorial, na tarde de hoje, testei positivo para a horrível praga. Como a viagem não estava prevista, fui convocado de última hora, por meus filhos e noras em caráter de emergência, alegando os mesmos que aqui teriam mais condições de me darem uma assistência maior. E é o que tem ocorrido.
Nessa mudança de endereço, que com a graça de Deus, creio, será temporária, deixei em Mossoró, meus livros de cabeceira, que nessas horas difíceis, serve como um verdadeiro bálsamo para o espírito. “Dias de Domingo” e “Veredas do meu Caminho” do mestre Dorian Jorge Freire, que segundo o professor Vingt-Um Rosado, era o gênio da raça mossoroense.
Esses companheiros que sempre conduzo comigo, no atropelo da viagem, deixei na terrinha e está me fazendo muito falta. Mas como dizia no início dessa narrativa, hoje o que se apresenta para mim é um misto de dúvida e interrogação. A doença é cruel e traiçoeira. Entra em nossa vida sem pedir licença, para infernizar nossos dias e nos privar de ver nossos entes mais queridos, razão maior de nossa vida nos dias atuais.
Deus, me deu a graça de ter Simone, minha companheira há 57 anos, dois filhos maravilhosos, duas noras admiráveis e quatro netos que todo avô gostaria de ter. Por isso mesmo, tendo a família formidável que tenho, acometido da terrível doença, me vejo questionando sobre a vida. E sobre o tema, alguém usando o anonimato afirmou que: “a vida é imprevisível e é isso que a torna bonita. Não podemos saber o que o futuro reserva, portanto, tudo é possível. Não somos a mesma pessoa a cada acontecimento em nossa vida. Nos reinventamos constantemente depois dos tropeços, das dores, das feridas, dos dissabores, buscando na fé e na vontade de seguir, um motivo a mais para continuar nossa caminhada”.