25/01/2022
Filha de Olavo de Carvalho, que já lançou livro sobre “a face oculta” do pai, pede que Deus perdoe “as maldades que ele cometeu”
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Filha do guru da família Bolsonaro, Olavo de Carvalho, falecido na noite desta segunda-feira (24), a ativista da canabis para uso em tratamento médico, Heloísa de Carvalho, criticou quem comemora a morte do pai.
Rompida com Olavo e filiada ao PT, ela postou nas redes sociais sobre a morte de Olavo pedindo desculpas pelas ‘maldades’ cometidas por ele.

Assim como Olavo, Heloísa tem gosto pela escrita, e em2019 lançou um livro contando sobre “a face ainda oculta de Olavo de Carvalho”.

Numa entrevista ao blog ‘Segundo Tempo’, Heloísa falou sobre a face oculta do guru da família Bolsonaro.
Que face é essa?
É o lado confuso e desonesto do guru.
As pessoas compram como ele se pinta hoje, mas, no passado, ele se pintava de outras maneiras. Foi dançando de acordo com a música. O objetivo dele sempre foi ter muita influência e poder. Eu nunca achei que conseguiria. De repente, ele conseguiu, e eu me vi em uma questão pessoal e moral de falar: "Peraí, vocês estão comprando uma fraude". O cara fez tudo o que fez com a família, deu golpe financeiro em amigos, na editora que editava os livros dele. Ele diz que era da tariqa [organização esotérica islâmica], mas que não era muçulmano. Como não? Montou uma comunidade islâmica com 30 pessoas dentro de casa, tinha várias esposas. Eu fui casada no islamismo quando tinha 16 anos. Tive que me converter para ser do grupo. Era a comunidade que meu pai montou dentro de casa. Tem uma postagem dele dizendo que nunca saiu da Igreja Católica. Como assim?
Como foi a sua infância?
Ninguém estava nem aí para mim. Vivi um abandono intelectual. Meu pai não pagava mensalidade da escola. Eu não tinha uniforme, material. Comecei a cabular aula porque tinha vergonha. Eu era uma criança: não tinha internet, não sabia de conselho tutelar. Na adolescência, era uma analfabeta. Dos 13 para os 14 anos, estava lá jogada, às vezes não tinha comida. Aí uma tia apareceu, e eu pedi: "Pelo amor de Deus, me leva embora". Fui morar com ela. Foi quando fiz o Mobral [programa de alfabetização de jovens e adultos criado pelo regime militar].
Um dos capítulos do livro leva o título "A Barca Egípcia e Outras Histórias Bizarras". Que história é essa?
Essa história eu não vi. Foi contada pelos meus irmãos e pela minha mãe. É o seguinte: meu pai sempre teve questões de entrar em crise, de delírio de seita e de loucura. Entrou no porão da casa em que morava, em Pinheiros [zona oeste de São Paulo], se fechou lá para construir uma barca egípcia, para transmigrar, coisa da seita, uma coisa de louco. Minha madrasta se apavorou, chamou a polícia. É uma das poucas passagens que conto em que não estava ou de que não tenho prova.
A senhora divulgou uma carta aberta em 2017 dizendo que Olavo já apontou uma arma os filhos. O que aconteceu?
Não posso falar sobre isso porque fui processada pelo guru por causa dessa carta aberta e fiz um acordo. Tive que tirar tudo o que publiquei das redes sociais e não falar mais disso, por causa da questão da arma. A audiência de conciliação foi em dezembro de 2018. Ele também me denunciou no Deic [Departamento Estadual de Investigações Criminais] como chefe de organização criminosa internacional. O processo foi arquivado no ano passado. Também fui processada pelo meu irmão e por minha cunhada. Eles disseram que eu falei que eles pegaram dinheiro do Bolsa Família, mas eu nunca disse isso. Falei que eram inscritos [no programa]. Ganhei esse processo.