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02/04/2022





Ode ao 1º de abril

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Do procurador da República no Rio Grande do Norte, Fernando Rocha, sobre “mentira”, nesse primeiro de abril.


Ode à mentira

No mundo político a mentira se alia à desfaçatez e é capaz de guiar um país rumo a um mundo mitológico cujo líder tem nelas seus grandes trunfos. Os malfeitos são encobertos, as conquistas criadas e divulgadas com auxílio eficiente da maquiagem do marketing. Hitler e Mussolini, por exemplo, resultaram de uma grande mentira compactuada pela elite europeia do século passado a revelar que sua propagação somente se estabeleceu graças à omissão de quem poderia e deveria agir. A mentira, portanto, é produto da desídia dos bons que se calam solenemente.

Assim como na economia a dimensão da oferta depende da demanda, a mentira somente existe porque cada vez mais há iludidos ávidos por serem enganados. Em adendo à advertência de Nitetzche segundo o qual “cada pessoa tem que escolher quanta verdade consegue suportar”, cumpre ressaltar que o destinatário da mentira não é necessariamente sua vítima, mas muitas vezes seu impecável cúmplice que busca na ilusão razão para manter suas crenças superficiais e inevitavelmente preconceituosas. Aliás, o preconceito é o filho da mentira e dela se alimenta para poder justificar o tratamento diverso dispensando às pessoas segundo a cor, a origem, o sexo ou a raça.

Se o que se busca é a verdade e se está disposto sinceramente a com ela conviver, desconfie do grito, pois a voz se eleva no exato momento em que a razão dissipa, não acredite em quem despreza a ciência e a universidade, pois lá é ambiente em que a verdade é a meta primeira e, por fim, e não menos importante, jamais acredite em quem acha a filosofia desnecessária, pois essa espécie de conhecimento tem a crítica como método e a reflexão como fim.

Apesar de toda a imponência da mentira, sua principal fraqueza, que é o tempo, o acompanha implacável, impiedosamente e tem na verdade, seu grande algoz, um eficaz aliado. A mentira é tão intensa como a paixão e tão efêmera quanto, mas é muito mais impaciente e não suporta o tempo e o tédio. Como fênix, a verdade ressurge sempre que os homens e mulheres de coragem se propõem a encurralar a mentira que, de covarde, invariavelmente entra para o panteão da história ao lado dos malfeitores da humanidade e daqueles que se mantiveram inertes diante deles. Enfim, a mentira cobra o preço de quem dela se vale, do tamanho bem superior ao benefício com ela obtido e no tempo bem inferior do que se imaginara.
Fernando Rocha

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