15/10/2022
As primeiras prisões do orçamento secreto revelaram esquema de envio de recursos federais direto para municípios
A Polícia Federal fez as duas primeiras prisões de envolvidos por corrupção no esquemão do orçamento secreto.
As duas primeiras, sim, porque vem muito mais por aí.
O orçamento secreto pode ser uma reedição da lavajato.
Nem dá para dizer que será a lavajato de direita porque a lavajato oficial já foi de direita.
O PP, partido que faz parte da base de Bolsonaro hoje, e que é comandado pelo chefe da Casa Civil da presidência da República, Ciro Nogueira, foi o partido que teve mais congressista investigado.
Apesar da lavajato ter a cara do PT, entre os congressistas (senadores e deputados) o PP foi o mais investigado.
E aonde está o PP hoje? Praticamete dentro do Palácio da Alvorada, residência do presidente, por onde transitam os pepistas mais famosinhos do governo, os ministros Ciro Nogueira e Fábio Faria.
Veja trecho de uma publicação do site Jusbrasil de 8 anos atrás, quando a lavajato de esquerda e de direita bombava: e lá estavam Ciro Nogueira e o hoje presidente da Câmara, Arthur Lira.
A bancada do PP na Câmara tem 40 deputados e terá 18 investigados. Na Câmara, PMDB e PT têm dois investigados cada um.
Dos cinco senadores do PP, três estão na mira do Supremo.
A apuração envolve o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI); o vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (MA); o presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara, Arthur Lira (AL); e o líder na Casa, Eduardo da Fonte (PE).
Para o PP, há relato de pagamentos de até R$ 5 milhões em propina.
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Seguindo o baile...sobre os nomes destacados no texto acima...
Vale lembrar que Nogueira e Lira são apontados como os homens que mandam no Brasil.
E eles foram protagonistas da lavajato.
E já são citados em denúncias do orçamento secreto que poderá vir a ser a reedição moderna da lavajato.
Os primeiros presos do orçamento secreto foram os irmãos Roberto Rodrigues e Renato Rodrigues, que de acordo com as investigações, são suspeitos de inserir dados falsos em planilhas do SUS em vários municípios do Maranhão para inflar a quantidade de procedimentos médicos feitos nas localidades, aumentando criminosamente o repasse de recursos do Orçamento.
Roberto aparece nas investigações como a pessoa que solicitou R$ 69 milhões em emendas de relator-geral do orçamento para municípios do Maranhão, só neste ano.
As emendas de relator são aquelas em que não aparecem o nome do deputado que assina o pedido de liberação.
As tais emendas de relator garantiram os repasses do governo federal direto para os municípios.
E sabe aquela gabolice do governo federal dizendo que nunca nenhum presidente mandou tanto dinheiro direto para os prefeitos?
Convém aguardar o que pode vir por aí.
Entre os municípios do Maranhão para os quais os irmãos presos direcionaram as tais emendas de relator, em um deles, de acordo com a PF, o município de Igarapé Grande, teria informado, em 2020, a realização de mais de 12,7 mil radiografias de dedo.
A pequena cidade de 11 mil e 500 habitantes só não fez mais radiografia de dedo no Brasil do que São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte. Um escândalo.
Igarapé Grande foi o quarto município brasileiro a fazer mais radiografia de dedo em todo o país.
Aí analisando o caso de Igarapé Grande levanta-se a questão: é por isso que o governo federal manda dinheiro aos montes direto para as prefeituras, e em todo o país só se fala que os prefeitos estão com muito dinheiro?
Claro que muitos - e eu espero que a maioria - usam o 'muito dinheiro' para fazer obras e ações para seus municípios, mas um grande número, em todo o país, ainda vai aparecer em estatísticas semelhantes às de Igarapé Grande.
O orçamento secreto ainda vai dar muito o que falar, assim como deu a lavajato.