31/03/2023
Assim era Raimundo Fernandes
[0] Comentários | Deixe seu comentário.Raimundão, Raimundinho, deputado…
Raimundo Fernandes começou a carreira política como prefeito de sua cidade, São Miguel, no Oeste do Rio Grande do Norte. Exerceu dois mandatos.
Mas foi como deputado que ele se realizou, ampliando de São Miguel para outros municípios, até alguns que ele ajudou a criar, como Venha Ver, seu universo político.
Foi presidente da Assembleia quando o governador era José Agripino e o vice Vivaldo Costa. Comandou um plenário que tinha entre outros, nomes como Carlos Augusto Rosado, Lauro Bezerra, Nelson Freire, Carlos Eduardo Alves, Frederico Rosado, Ronaldo Soares, Júnior Souto. E outros que seguiram até os ultimos anos como Nelter Queiroz, Getúlio Rêgo, José Adécio, Robinson Faria, José Dias…
Deputado com viés sempre governista, Raimundo se aliou e rompeu com quase todos os governadores.
Aliadíssimo da então governadora Wilma de Faria, disse em uma entrevista ao Jornal de Hoje, e eu botei a frase como manchete de primeira página, que amava tanto Wilma que se ele morresse queria ser enterrado com a bandeira vermelha - cor da ‘rosa vermelha’ na época - em cima do seu caixão.
Hoje Raimundo se vai. Não teve nenhum pedido nesse sentido. Mas na política do Rio Grande do Norte, a bandeira que ele defende é vermelha, com a qual não teve tempo de romper.
Foi com a governadora Fátima desde o segundo turno do pleito de 2018, atravessou a gestão, seguiu junto na campanha de 2022 quando ela ganhou de novo, mas ele perdeu. Não conseguiu se reeleger, concluindo sua vida pública somando 8 mandatos de deputado estadual.
No pleito de 2018 Raimundo apoiou Carlos Eduardo para o governo, mas só no primeiro turno, segurando no braço de Fátima Bezerra do segundo turno até os dias atuais.
‘Apaixonado’ pela governadora Wilma de Faria, Raimundo foi puxado para o governo dela, quando assumiu a Secretaria de Articulações com os Municípios, abrindo vaga na Assembleia para o então suplente Vivaldo Costa.
Apesar de tomar posse com um discurso de lealdade, rompeu com a governadora.
Amigo de Robinson Faria, que presidiu a Assembleia por 8 anos, e a quem chamava de ‘Robinho’, Raimundo rompeu com ele logo que foi eleito governador. A aliança do amigo com o deputado Galeno Torquato, inimigo político de Raimundo em São Miguel, mesmo já tendo sido aliado, fez Raimundão deixar para trás a amizade com Robinho.
Raimundo não ficou nem na Assembleia para receber o governador Robinson Faria em sua primeira visita à Casa, e logo em seguida, assinou a formação de um até então inédito bloco da minoria, com participação dele e dos deputados Kelps, Ricardo Motta, Gustavo Fernandes, Hermano Morais, Tomba, Agnelo, Álvaro Dias, Albert Dickson e Getúlio Rêgo.
Raimundo era intenso, verdadeiro do tipo que não levava desaforo pra casa nem media palavras, e em sua trajetória que terminou com uma queda - na política e na vida - passou perrengues dos quais sobreviveu. Em 2014, por exemplo, sofreu um acidente e foi levado ao hospital no meio da campanha.
Em 2010 foi internado com problemas no coração, motivo que lhe fez não aparecer na comemoração de aniversário do então presidente da Assembleia Robinson Faria.
Em 2011, em meio a um debate sobre um empréstimo ao Bird, numa reunião de comissão na Assembleia, passou mal e foi atendido pelo amigo deputado/médico Vivaldo Costa, que rapidamente deu o diagnóstico: "Estando no governo, pra tudo tem remédio". O governo era de Rosaba Ciarlini, de quem Raimundo foi aliado antes de romper.
De Rosalba, o então deputado ganhou até uma aposta: Raimundo dizia que a vitória da Rosa, em percentuais, seria maior em Coronel João Pessoa do que em Mossoró. E foi. Em Mossoró, a governadora se elegeu com 84% dos votos válidos. Em Coronel João Pessoa, teve 88%. Raimundo comemorou e disse que ia esperar pelos 10 mil reais da aposta. Não sei se Rosalba pagou ou se Raimundo perdoou.
Raimundo Fernandes tinha um desejo de compartilhar a política com a família. Uma vez fora da Assembleia, para ser candidato a senador, elegeu a esposa Nirinha como deputada estadual.
Mas ainda tinha um sonho: vê-la prefeita de São Miguel. Dizia que queria ser o Carlos Augusto Rosado de São Miguel, se referindo ao marido de Rosalba, 5 vezes prefeita de Mossoró. Raimundo queria ser o primeiro-damo. Fez uma campanha apelando até para Frei Damião. Nirinha perdeu a eleição.
Raimundo era uma figura.
Engraçado, fazedor de amigos.
Divertido. Trabalhador.
Gente.
Se não estava de paletó, pouco se importava se a indumentária agradava ou fazia graça.
O tênis vermelho, cor da bandeira que carregou nos últimos anos de vida, chamou atenção do deputado Mineiro, e ele lhe deu um de presente. Um número a mais do que Mineiro calçava. Ele prometeu trocar.
O Blog hoje homenageia Raimundo, meu grande leitor, que costumava ligar para comentar as notícias, informar suas novas alianças pelo interior, ou até mesmo para comentar uma fofoca. Daquelas que a gente não podia publicar, mas que ficarão guardadas no off da memória.
Agora você parte...
Faz de conta que a última homenagem de seus amigos foi no Salão Nobre da Assembleia Legislativa, onde você gostaria de ter sido velado, e sua última morada foi a cidade de São Miguel, onde você tanto pedia, ao lado dos seus pais, e perto do seu povo.
Vai em paz meu amigo.
De fé e irmão camarada, como você gostava de cantar.